De acordo com matéria publicada no Jornal do Brasil, 26% dos caminhoneiros possui algum tipo de DST. A média da população em geral é de apenas 10%.
Esse percentual mostra que há uma necessidade por iniciativas de conscientização junto a esses profissionais da estrada.
Outro dado importante confirma tal afirmação: 40% dos motoristas dizem nunca ter recebido orientação sobre as doenças sexualmente transmissíveis ou informações vinculadas à educação sexual.
Diante das contradições, da complexidade e da seriedade desse assunto, outros dados ajudam na compreensão da real situação dos motoristas brasileiros:
- 76% dizem já ter mantido relacionamento sexual extraconjugal;
- Na ausência de projetos educacionais vindos do poder público, 24% dos motoristas dizem ter recebido orientações da própria empresa onde trabalham;
- 52% dos caminhoneiros acham válidas as iniciativas de educação sexual no trânsito;
- 22, 6% consideram que apenas usar camisinha já é o suficiente.
Características da profissão, um desafio a ser superado
As características vinculadas à atividade dos caminhoneiros podem ser um fator de dificuldade para o tratamento das doenças sexualmente transmissíveis.
Para não atrasar a viagem, os motoristas evitam parar nos centos de saúde para realizar consultas e exames. Outro fator de dificuldade é que geralmente os caminhões pesados são proibidos de circular dentro das cidades, dificultando ainda mais a prática da realização de consultas ou exames periódicos.
Essa situação conjuntural acaba estimulando um comportamento que, apesar de atenuar a insegurança, pode, a longo prazo, causar enormes prejuízos: a automedicação. Ao invés de procurarem especialistas, muitos motoristas tendem a comprar medicamentos em farmácias, sem orientação médica, a partir de eventuais sintomas que venham a sentir.
Além dessas características, a cultura também não tende a ajudar. Entre os caminhoneiros é comum o pensamento machista, que os coloca numa situação de maior vulnerabilidade no dia a dia das viagens. Há a cobrança entre colegas de trabalho por não recusarem garotas de programa ou até mesmo a ideia de que não precisam da ajuda de um médico, sobretudo quando se trata de questões que envolvem a sexualidade.
O HIV ainda é um perigo real
Durante muito tempo, quando a AIDS ainda era uma doença comum a grupos de risco, acreditava-se que, ao manter um relacionamento conjugal tradicional, isso era suficiente para se manter protegido.
Hoje não é mais assim. Os grupos de risco deixaram de existir enquanto foco de infectados da doença. A AIDS pode estar em qualquer lugar, inclusive nas estradas.
Daí a importância do uso do preservativo. Devido ao comportamento de muitos motoristas, que mantêm relacionamentos extraconjugais, o perigo de contaminação passa a ser coletivo, ramificando-se em rede: ou seja, o caminhoneiro pode infectar a própria esposa.
Se por um lado, a evolução do tratamento da AIDS fez com que pessoas infectadas pudessem levar uma vida comum, como as outras pessoas, há, nesse fator, um perigo. Hoje em dia, não existe mais uma pessoa contaminada com AIDS que se aparenta de maneira estereotipada. O corpo magro, os olhos fundos e avermelhados ou as manchas na pele não são mais características típicas. Ou seja, qualquer pessoa pode trazer consigo o vírus, sem que isso seja perceptível.
O cuidado para não ser infectado precisa partir de cada um, da postura ética que a pessoa terá com seu próprio corpo, com a própria vida. Ao profissional que trabalha nas estradas, cabe a ele avaliar o quão sua saúde é importante para continuar trabalhando e também para poder aproveitar a vida da melhor maneira possível.